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domingo, 9 de outubro de 2011

Entrevista: Luís Carlos Rossi

O diretor de arte/cenografia e também ator, Luís Carlos Rossi, formado pela EAD, turma de 1976, trabalha com cinema, teatro e televisão.

Como é tratada a ética no seu trabalho?

Eu creio que a ética é a honestidade, responsabilidade, conhecimento, credibilidade que o profissional tem que ter perante o público ou produto que está trabalhando, seja no cinema, teatro, televisão ou qualquer outra profissão. Eu não posso enganar ou esconder uma verdade, ou seja, não posso mostrar um objeto fora da sua época, fora do seu contexto. A informação tem que ser precisa, ter origem. Eu posso transformá-la, representá-la, mas nunca modificá-la. Por exemplo: o Brasil foi descoberto em 22 de abril; eu posso dizer/mostrar isso de várias maneiras, mas não posso alterar ou modificar a data da descoberta porque a informação foge/contraria a verdade. Seria antiético. 


Essa ética é seguida pelos profissionais que trabalham com você?

É seguida sim. Porque se eles não seguissem esse conceito ético eu não trabalharia com eles. Se os outros não são éticos comigo, seja em termos financeiros, ou prazos, ou usando meu trabalho para vender algo fora dos padrões estabelecidos pela sociedade ou daquilo que eu acredito como certo, eu não trabalho. Portanto, para ter um trabalho é preciso que todos tenham o mesmo ponto de vista, seja político, social ou artístico.

Mas todos eles têm esse mesmo ponto de vista?

Eu acho que todos nós temos que ter o mesmo ponto de vista. Devemos acreditar nisso, pois, se alguém mudar de direção, torna-se contrário ao conceito estabelecido pelo grupo para o trabalho, pondo em risco o final do mesmo, porque sempre o erro ou desequilíbrio vem à tona.  Basta ver nossos políticos: em campanha suas convicções são maravilhosas, idealistas, humanistas, populares e até mesmo generosos; basta estar no poder que tudo cai por terra, ou melhor, derrubam por terra.  Haja ética.

Você, quando atuava como ator, tinha uma ética com o seu trabalho e o seus parceiros de cena. Como foi ou era essa relação tratando do foco da ética?

Na atuação existe uma marca/encenação estabelecida, que é determinada pela direção; existe um texto escrito pelo autor; existe um figurino criado pelo profissional da área, etc. Se eu mudo a encenação deixo vários técnicos sem controle (iluminação, som, etc.). Deixo o diretor insatisfeito, pois estou contrariando sua criação. Se, de improviso, eu mudo o texto, posso deixar o meu companheiro de cena sem “deixa” para entrar com a sua fala. Errar não é antiético. Aí o improviso justifica, agora quando é proposital, como uma brincadeira, põe em risco todo trabalho. Brincadeira vive a margem do antiético. O compromisso com a equipe vai desde o horário da chegada até a conclusão dos trabalhos. É profundamente antiético fazer toda a equipe esperar por você.

Agora, trabalhando como diretor de arte/cenografia atrás dos palcos ou das câmeras, como se dá a ética na sua relação com seus parceiros na produção de um filme?

Essa relação começa pela pontualidade. Estamos trabalhando num filme cujo cronograma exigia quatro reuniões para definição dos figurinos. A figurinista não apresentou nada nas três primeiras reuniões e sequer apareceu na quarta. Ou seja, ela está nos enrolando. Sempre que eu posso vou facilitar o trabalho dos meus parceiros. Por exemplo: o fotógrafo necessita de um cenário claro para fazer o trabalho dele. Seria antiético eu não ajudá-lo e apresentar um cenário escuro. Na minha profissão a ética pauta-se na pontualidade, ajuda mútua, respeito moral, cumprimento de prazos de entrega, execução e qualidade do produto. Essa qualidade é importante porque a qualidade do meu trabalho vai fortalecer a qualidade do trabalho dos meus parceiros para que tenhamos uma unidade equilibrada do produto final. 

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